Meus
pais
Por: Hugo Lino dos Santos
Meu pai, Manoel dos Santos, nasceu em
Indaial em 25 de fevereiro de 1896. Aprendeu o ofício de charuteiro – tendo
trabalhado 3 anos, apenas em troca de comida . Trabalhou em Blumenau por vários
anos. Esteve em Timbó e Jaraguá do Sul à procura de emprego. Finalmente, no
início da década de 1920, mudou-se para Rio do Sul.
Minha
mãe, Aurélia Bona, nasceu em 28 de março de 1902, em Arrozeira, hoje, município
de Rio dos Cedros. Órfã de mãe, por volta dos 5 anos de idade, passou a morar
definitivamente com os avós Trentini, em Cuaricana, hoje, município de Ascurra.
Aos 18 ou 19 anos – quando a avó, Catarina Trentini, faleceu – foi morar em
Blumenau, com os tios Domingos Largura e Maria Trentini. Lá permaneceu por um
ano, quando houve a mudança para Rio do Sul.
Ali,
meus pais se casaram, em 06 de fevereiro de 1926 e residiram até 1927. Ambos
trabalhavam na fábrica de vassouras e chapéus de palha, de propriedade do tio
Largura. Após o fechamento da fábrica, sem trabalho, compraram uma colônia,
fiado, em Barra do Trombudo. Ali eu nasci em 21 de dezembro de 1931.
Não
foram bem sucedidos na agricultura e, uns 3 ou 4 anos depois, venderam a
propriedade e compraram uma pequena “chácara” no Km 4 da estrada de Taió. Meu
pai voltou a trabalhar como empregado, durante algum tempo, na firma “Carlos
Schroeder”, em Rio do Sul, a cerca de 10 km de casa. Saia de madrugada, antes
das cinco horas da manhã de 2ª feira e voltava no sábado à noite. Fazia um
trecho à pé e outro de trem.
Minha
mãe cuidava da roça, das crianças, das vacas... São desse tempo minhas
primeiras lembranças. Algumas boas, outras nem tanto. Em 1938 ou 39, a febre
Paratifoide vitimou alguns de nossos vizinhos, inclusive meu padrinho, João Buzzi.
Logo após veio a peste do gado. Meus pais tínham três vacas, uma novilha e uma
bezerrinha. As primeiras morreram, a novilha virou charque no dia em que
amanheceu “triste”, sobrando apenas a bezerra Chitinha. A vida deles foi toda
marcada pela miséria, mas nessa época, tenho certeza, passamos fome.
Nova
mudança. Outra colônia, bem próxima, do outro lado do rio. Uma casa muito
pequena, caindo aos pedaços. Mamãe, com os filhos mais velhos, ia para a roça;
papai, em períodos alternados voltava a trabalhar como operário. Em 1940, fui
para a escola. Mais tarde, meus pais, com a ajuda dos filhos mais crescidos,
conseguiram construir uma casa, de madeira.
Em
1953 mudaram para uma chácara em Laurentino. A família começa a se dispersar.
Eu já estava em Mondaí desde 1952, após ter dado baixa do exército, em Lages.
Os filhos mais velhos casaram. Nova mudança, dessa vez para Lontras, onde papai
e mamãe adquiriram uma meia colônia, muito acidentada, junto à pequena cidade.
Quando
não puderam mais trabalhar, transferiram-se para um lote urbano, no bairro
Cantagalo, em Rio do Sul. Para esse fim, contaram com a ajuda de meus irmãos
mais velhos.
Mamãe
ainda pode criar alguns porcos e galinhas, mas não vacas (sua grande paixão). O
terreno tinha um quintal com algumas árvores frutíferas. Esta última mudança
ocorreu em 1971, aonde meu pai veio a falecer, em 2 de outubro de 1983, aos 87
anos de idade. Este foi o ano da grande enchente, a maior ocorrida em Rio do
Sul até aquela data. A casa deles também foi atingida com um metro e meio de
água dentro de casa. Papai já estava muito doente, por isso trouxe os dois para
nossa casa, em Florianópolis, durante uns vinte dias – o meu irmão João os
conduziu de volta. Na vinda, pernoitamos em Indaial, na casa da tia Otília e
ele pode, ainda, conversar com os irmãos João e Ervino. Presenciei abraços e
lágrimas (de despedida).
No dia seguinte tive de interromper uma, agora, animada conversa entre eles e os separei para sempre. Passamos pelo centro de Blumenau, por insistência da mamãe. Passamos também pela cidade de Brusque, por causa dos estragos nas estradas.
Após o falecimento de papai, mamãe passou a morar em uma casa alugada, também em Rio do Sul. A nossa irmã Iolanda continuou cuidando dela como já vinha fazendo com os dois, há muito tempo. Mamãe faleceu em 23 de março de 1989, coincidentemente, também com 87 anos, depois de permanecer acamada durante dois anos, em consequência de AVCs (dois seguidos) que sofreu.
Ambos estão sepultados no cemitério de Rio do Sul.
Manoel e Aurélia dos Santos - Setembro de 1979