sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Cumprindo promessas

          Ao iniciar este blog, me apresentei também como compositor, mas nada postei nesse sentido. Então, na última semana do ano, desejando a todos um excelente 2014, começo a apresentar quatro músicas de minha autoria. A primeira, que dá nome ao disco, postada hoje e as demais nas próximas semanas.
          Agradeço a todos que me acompanharam ao longo dos últimos meses, esperando reencontrar vocês no ano que se inicia.

CD Memória de Neon
Letras e músicas: Ney Santos
Intérprete: Ney Santos
Arranjos: Otávio Aith


Memória de Neon (2004)


Meu olhar de neon
Na memória luz e som
Minha história tempo bom
Havia um muro em Berlim
Em Berlim, Berlim, Berlim

Na cidade uma placa
De contramão
Se alguém me diz não
Respondo sim

Valeu o seu sorriso
E aquele beijo
Que você deu em mim
Na memória luz e som

Sua história tempo bom
Você valeu
E agora até mais

domingo, 22 de dezembro de 2013

São Bento do Sul

          Fundada em 23 de setembro de 1873 por imigrantes alemães, em sua maioria, está situada na Serra Norte Catarinense, 80 km distante de Joinville, com acesso pela Estrada Dona Francisca. O centro da cidade é muito bem preservado e tranquilo, excelente para se percorrer a pé. Indispensável conhecer a igreja matriz, católica e a igreja luterana, bem como o Museu Municipal com quase duas mil peças de acervo.
          E para quem pensa que só existe "fog" (nevoeiro) em Londres, São Bento nos brinda com um tão espesso que quase se pode pegar com as mãos. A ocorrência do mesmo, segundo moradores, acontece com mais frequência no final da tarde.


São Bento do Sul


Igreja Matriz

Museu Municipal

"Fog" em São Bento do Sul

sábado, 14 de dezembro de 2013

Inevitável

Arquivo (1977)


Enforcado contigo
No galho da árvore alta
Da esquina da rua
Da casa que alugo
Com quarto, cozinha
Sala e banheiro

Em resumo
Meu problema é só monetário
Paspalho é você
Que me chama de otário
No meio da rua

Não sei mas eu acho
Que sou o único agora
De guarda-chuva sem chuva
E lembro você
Que eu busco e rebusco
No arquivo
Dos meus pensamentos


Brilho (1985)


Veio a mim
Como uma estrela vem
Brilhando inteira

Veio a mim
Emitindo sons sem nexo
Cheirando a sexo
E perfume exótico

Explodiu em mim
Como um zepellin
Fagulhas que pediam sim

E eu, mudo
Ouvi apenas
Sua calidez 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

No Reino dos Tiques

Texto e ilustrações: Ney Santos


Significado de Tique
s.m. Contração convulsiva de certos músculos, principalmente os do rosto. / Fig. Hábito ridículo ou incômodo.
Traduzindo: Esquisitice.
“de médico, poeta e louco, todos temos um pouco”
Então, vamos à estória...

1 – O Reino

Certa vez, Elesbão, um tucano-de-peito-amarelo, muito curioso e falador, resolveu conhecer o mundo. Fez sua mala e voou, voou, voou... Até chegar a um estranho reino.
Nesse reino, pequenino, o relógio da igreja só fazia tic, tic, tic e não tic-tac como todo relógio sabe fazer.
Em frente ao palácio, havia um agrupamento de pessoas e Elesbão, curioso, foi ver o que estava acontecendo.
O rei, cujo nome era Pateco, fazia um discurso, mais ou menos assim:
“Povo da minha terra, povo da minha terra; como todos sabem, como todos sabem; os cofres do tesouro real, tesouro real; estão vazios, estão vazios; por isso resolvi criar, resolvi criar; o IST, o IST (imposto sobre os tiques). Quem provar que não tem tiques, quem provar que não tem tiques; ficará isento, ficará isento; todos os outros pagarão, pagarão.
Para tanto deverá se apresentar, deverá se apresentar; amanhã, na fila do tique, na fila do tique. Que assim seja, que assim seja.”
Dessa maneira terminou o discurso do Rei Pateco. Elesbão, do alto de uma árvore, só observava.


2 – A Fila

Foi aquele alvoroço, ninguém se entendia. Era um corre-corre, pula-pula, fala-fala ensurdecedor.
O consertador de relógios olhava as horas a cada sessenta segundos e dizia:
- Eu não tenho tique, não vou pagar o tal de IST. E tornava a ver as horas.
Mané Pisca-Pisca, assim chamado por que piscava sem parar, estava apavorado:
- Não tenho dinheiro prá pagar mais imposto, ainda mais imposto por piscar. É o fim da piscada!
O Pedrinho, de apenas cinco anos de idade, ouvindo as conversas, começou a chorar:
- Não “telo” pagá imposto! Eu nem tenho “emplego” ainda... buááá!!!
Enquanto isso, Elesbão que a tudo assistia, começou a matutar. Do alto da árvore chamou as pessoas e disse:
- Gente! Pelo que eu vi aqui, o primeiro a ter de pagar o imposto será o rei, afinal, ele fala tudo duas vezes. Isso é um tique dos grandes. Ah se é!
Todos ficaram abismados, não por que o rei tinha um tique, mas por que nunca tinham ouvido um tucano falando. Mas que ele tinha razão, isso tinha.
Então decidiram ir ao palácio, falar com o rei.


3 – A Audiência

O rei, que não estava presente quando o tucano falou, não queria atender a população, pois sabia que cobrar impostos sempre deixa os súditos indignados, ainda mais quando se cria um imposto assim, tão louco. Mas ao ser lembrado que alguns reis já perderam suas cabeças por serem teimosos, aceitou receber o povo.
Sentou no seu trono, com a coroa na cabeça e autorizou a entrada das pessoas.
- O que vocês desejam, vocês desejam? Perguntou o rei.
- Achamos que esse tal IST é um absurdo e não queremos pagar.
- Um tique incomoda todo mundo, incomoda todo mundo; então deve pagar sim, deve pagar sim.
- Majestade - disse Elesbão, que era mestre na arte de falar.
- Eu estou de passagem por esta terra, muito bonita, por sinal, mas parece que o senhor, que é um Rei inteligente, já percebeu que tem o tique da repetição, então deveria ser o primeiro a pagar o imposto, e como Rei, deve pagar o imposto para o povo. É claro que o IST deve ser proporcional à importância da pessoa no reino...
Todos os presentes aplaudiram o tucano, que sorria com seu enorme bico.
O rei, atrapalhado, gaguejou um pouco, pensou e por fim, disse:
- Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação (e baixinho: por culpa desse tucano metido) o IST está cancelado.


4- A Festa

Foi uma festa geral: música, pipocas, algodão doce, pirulitos de todas as cores, amendoim torrado (que o Elesbão adorava) e muitos agradecimentos ao tucano, que pegou sua maleta e partiu para outros lugares onde sua curiosidade o levasse.
Quando circulou a torre da igreja, sob os aplausos do público, notou que o relógio agora fazia tic-tac, como todo relógio sabe fazer. Deu mais uma volta sobre a multidão e se afastou num belo e soberbo vôo.
E é por isso que hoje, na praça principal do reino dos tiques, existe uma estátua de um garboso tucano-de-peito-amarelo.
Elesbão, o tucano curioso! Quem quiser confirmar isso é só ir até o Reino dos Tiques...!



Fim

sábado, 30 de novembro de 2013

Sentidos

Obviedades (2003)


Gosto de dizer o óbvio
e falar verdades
Que sei que todos sabem

Gosto de colocar em versos
o que sinto no instante
Mesmo que mude em segundos
ou dure eternamente

Gosto de cantar o belo
a menina de seus olhos
Ou da flor o seu perfume

Gosto de falar com minha boca
O que ouvidos ouçam
e entendam

Se não me entender
Que compreendam


Seus olhos (2004)


Eu sou aquilo
Que seus olhos não podem ver
Pois que são cegos
sem saber

Que meus passos
têm rumo incerto
Que as vezes me sinto
tão perto

Seus olhos não vêem
Que busco um sinal
prá entender
Que apenas assim
vou seguir

Mas seus olhos não podem ver
São cegos demais
prá saber

sábado, 23 de novembro de 2013

Itaiópolis

          Fundada em 12 de outubro de 1918, situa-se no planalto norte de Santa Catarina, próximo à divisa com o Paraná. A altitude média da cidade é de 930 metros acima do nível do mar, com acesso a partir de Lages-via BR 116 ou a partir de Joinville-via SC 301 (Estrada Dona Francisca). Itaiópolis, de colonização polonesa e ucraniana tem entre outros atrativos o bairro Alto Paraguaçú com seu casario tombado e a bela Igreja de Santo Estanislau. Circular pelo centro comercial da cidade é agradável e nos revela surpresas como o lindo casarão, próximo à Igreja matriz, construído em 1889.
          Não deixe de visitar também o Centro de recepção de visitantes, na praça principal.


 Alto Paraguaçú


 Igreja de Santo Estanislau


 Casarão de 1889

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Poeminhas

Nem tanto (1986)


Nem tão poeta
Nem tão atleta
Talvez...
Uma espoleta


Minha (1985)


Vive ao meu lado
Impulsiona-me
Leve paixão
Maior que o trovão
Amo-te assim


Definindo (1991)


Rápido
Redondo
Ríspido
Rotundo
Rústico azul


Agridoce (1983)


Não era doce
Não era amargo
Tinha o frescor da manhã
Tinha a pureza do luar

Um ser calado
Que dava golpes de karatê

sábado, 2 de novembro de 2013

Dois tempos

Em fotografia (2006)


A vida passa sem graça
Pela janela
O tempo escoa com pressa
Pela vidraça

E talvez eu nem te conheça mais
Pudesse eu voltar atrás
Mas não sei onde estás

Em uma praça
Ou na cabeça
Em alguma fotografia
Ou na lembrança

Faz tanto tempo
Você mudou
Talvez não te conheça mais
Só exista em fotografia
Ou na lembrança


Luz de estrela (2004)


A beleza passa rápido demais
Fica apenas a lembrança
No fundo de sua cabeça
E antes que anoiteça
Antes que envelheça
 Antes que adormeça
Não esqueça

Que a luz de uma estrela
Que se vê, talvez
Já não exista

Só importa o fato
De saber sua presença
E que resta a luz 

domingo, 27 de outubro de 2013

Anitápolis

     
          Os primeiros imigrantes alemães chegaram ao nosso estado no ano de 1828, instalando-se e fundando, no ano seguinte, o atual município de São Pedro de Alcântara. Dali alguns se transferiram para outras localidades. Entre tantas, uma é Anitápolis, pequena e acolhedora cidade distante cerca de 90 km de Florianópolis, que foi palco para a batalha da Serra da Garganta, ocorrida em 1930 entre as tropas revolucionárias de Getúlio Vargas e as catarinenses que defendiam a manutenção do governo de direito. O acesso é todo asfaltado, com pouco movimento de veículos e nos brinda com belas paisagens. Vale conferir.

Vista parcial de Anitápolis 

 Casa construída em 1906

Construção na área rural   

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

De amores

Manchete (1976)


Era tão forte, tão alto
O sorriso molhado
Que dela eu ouvia

Era tanto o brilho
E de tal colorido
Em seus olhos havia

Era tanta beleza
Nos lábios rosados
Que eu me fugia

Agora só resta
Um sorriso magoado
Um ai congelado
Um olhar distraído


Sonho (1981)


Ah! se fosse como a flor
Que desabrocha do botão

Ah! se fosse como a fonte
De onde brota água limpa

Ah! se fosse como a dor
De quem sofre em silêncio

Ah! se fosse como a fronte
De onde escorre o suor

Ah! se fosse como um sonho
Como um banho que refresca
Como a noite que atravessa
O fim do dia


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Outras motocicletas

Nos anos oitenta, uma Honda Turuna, era considerada uma "motocicleta". Poucos conseguiam adquirir, pois o preço era bastante elevado. A Turuna, de fácil manutenção, boa estabilidade e muito econômica (chegava a 45 km/litro de gasolina), fazia trio com as também Honda ML e CG125. Esta, abaixo, comprei por bom preço e restaurei.

Turuna 125 - 1980
Se possuir uma Turuna já era bom, imagine uma Honda CB 400II. Esta, ano 1983, duplo freio a disco na dianteira, na cor preto ônix, que conforme a incidência da luz ficava marrom, era o "top" naqueles anos. Tanto que as propagandas da época a designavam como "A máquina da Honda". Seu ronco, extremamente peculiar, causava calafrios.

Honda CB 400II - 1983

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Recordando

Lacunas (2000)


Sinto falta de John
De Raul e meus avós
Sinto falta do som
Que havia

Sinto a ausência
De alguém que eu via
Debruçado
E acenava bom-dia

Sinto que o tempo
Escapa
Que a dor ataca
E vejo meu chapéu

Sinto falta de um passado
Recente que insiste
Em ocupar espaços

E por mais que eu queira
Esquecer me invade



Lembranças (2012)


Lembro da terra, escura
Lembro de flores
E abelhas
E rosas, vermelhas

Lembro do buldogue
Latindo sem boca
Por detrás das grades
Da casa velha

Lembro da senhora, de touca
Do xale surrado
Olhando o jardim
E a janela

Ah! aquela janela
Lembro dela, a mais bela
Sorrindo prá mim

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Lembranças

Labirintos (1988)

 

Senti saudades
Então te procurei
Nas ruas, nas casas
Atrás das portas
No galho da mangueira
Dentro do carro
Sob a mesa
No outro lado da vitrine
Nos parques e escolas

Finalmente te encontrei
NUA
Fazendo hidromassagem



Guarde-me (1985)


Quero que me tenhas
Na palma da tua mão
Ou no fundo
Da tua cabeça

Num retrato
Bem ou mal falado
Ou no fundo
Da tua cabeça

Quero que me tenhas
Num momento saboroso
Ou no fundo
Da tua cabeça

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Nova Veneza

Data: 14-09-2013

          A pequena cidade no sul de Santa Catarina, distante cerca de 15 km de Criciúma, de colonização predominantemente italiana, foi fundada em 1891 por imigrantes vênetos e lombardos. Além das lindas paisagens junto à rodovia de acesso, o maior atrativo de Nova Veneza é a gôndola, original, a única na América do Sul, ofertada pela Veneza italiana. Vale uma parada no portal de entrada da cidade, que ostenta o Leão de San Marco no topo, também presente da Veneza européia.

 Casario antigo

 Na gôndola

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Religiosidades

Saecula, saeculorum (2010)

Se os pecados
não prescrevessem
Se os amores
não exaurissem
E se as rosas em março
não fenecessem

Nem as cruzes negras
(ainda)
Existissem...


Vagamente (2002)

Minha religião pareça
Estranha a você
Creio em mim
Creio que eu sou

Um reflexo
Uma lembrança
Um breve lapso
De tempo-espaço
Uma imagem holográfica

Não há lógica
No sorriso
Nem sonho eterno

Creio em mim

domingo, 8 de setembro de 2013

Primaverices

Degradê (2013)

No vôo leve
Em círculos perfeitos
De transparentes tons

Na ausência
Pura e simples de sons
As cores gritam


Primavera (2013)

Sabe, as borboletas?
O que sabem as borboletas?
Sábias borboletas
Voam

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A fuga das cores


Armando era um menino de doze anos, sensível, estudioso e sonhador, mas, às vezes, um pouquinho preguiçoso. Certo dia, sua professora levou para a aula um caleidoscópio de vidro para estudo da luz. Falou sobre a refração da luz, das ondas de luz e das cores.
O caleidoscópio passou de mão em mão até chegar às de Armando, que ficou fascinado ao ver as cores do arco-íris brilhando no aparelho. Passou o resto do dia pensando no que tinha aprendido e dormiu com as lembranças na cabeça.
Ao acordar, na manhã seguinte, notou algo estranho. Quando passou em frente ao aquário, seu peixinho azul e vermelho ficou sem cores. Estava preto, branco e cinza. Mais parecia um rascunho do seu peixinho. Onde quer que fosse tudo ficava sem cor. Tudo ficava em tons de cinza.
Armando estava assustado. Pensou em falar com seus pais, mas eles eram muito ocupados e não teriam tempo para ajudar no seu problema. E um mundo cinza era feio demais. Algo precisava ser feito.
Ele então se lembrou de um velhinho de barbas brancas que morava próximo da sua escola. Seu Joaquim. Algumas pessoas falavam que ele era um bruxo, outras que seria papai-noel.
Armando resolveu procurá-lo e perguntar se poderia ajudá-lo a devolver as cores aos seus donos.
Ao chegar à casa de seu Joaquim, Armando abriu o portão e cruzou um jardim florido, que curiosamente não perdeu suas cores. Parecia que ele estava no lugar certo.
Armando então bateu na porta e surgiu seu Joaquim, as barbas longas mais parecendo algodão, perguntando:
- O que deseja menino?
- Seu Joaquim, eu estou com um problemão e não sei resolver, pode me ajudar?
- Claro, entre e conte prá mim.
Armando entrou e contou com detalhes o que estava acontecendo. Seu Joaquim pensou por um tempo e procurou um livro velho, encadernado em verde-escuro e com letras douradas na capa, que diziam “Cores, sabores e magia”.
Seu Joaquim, colocando os óculos redondos que o deixavam parecido com o mago Merlin do desenho, procurou no índice:
-... Cores fortes... Cores fracas... Achei!... Cores fujonas!
“Quando as cores cansam de ficar no mesmo lugar por muito tempo, procuram alguém que tenha a capacidade de levá-las consigo, como se fosse um imã. Para se restaurar tudo, o imã (normalmente uma criança) é preciso que ela faça o caminho inverso desde o começo do problema, recitando a cada dois minutos – Cores! Voltem para o seu dono.
Seu Joaquim, falando baixinho, como se fosse para ele mesmo, disse:
- É por isso que as cores desbotam, com o tempo... Elas estão fugindo aos poucos.
E fechando o livro, insistiu:
- A cada dois minutos diga a frase!
- Tá bom seu Joaquim, tchau.
Ao sair, fazendo o caminho inverso, Armando pensou:
- Puxa vida, vai dar um trabalhão falar a cada dois minutos “Cores! Voltem para o seu dono”. Só vou falar algumas vezes. Ninguém vai saber... E se eu encurtar o caminho um pouco, chego em casa mais rápido. Vou devolver as cores de maneira mais fácil.
Quando Armando chegou na sua casa estava cansado e foi para seu quarto dormir um pouco. Sentiu fome e voltou para a cozinha. No momento em que passou na frente do aquário viu que o seu peixinho estava amarelo e roxo.
- Ai, ai, ai será que...?
Armando saiu correndo e constatou que a coisa estava feia. Os papagaios do parque estavam cor-de-rosa, as rosas ficaram azuis, o poodle da vizinha estava amarelo com manchas pretas, parecia uma onça-pintada. O pobre cachorrinho olhava para seu corpo e gania, sem entender.
O menino então voltou à casa do seu Joaquim, contou a confusão e este, sorridente, disse:
- Já que você quis fazer mais fácil, agora terá de corrigir o erro repetindo A CADA MINUTO a frase “Cores! Voltem para os seus verdadeiros donos”.
Armando, cabisbaixo, reconheceu que se tivesse seguido as recomendações do seu Joaquim, à risca, já estaria tudo resolvido. Tudo por causa daquela preguicinha que o acometia às vezes...
Agora fez tudo certinho. As cores voltaram para os seus legítimos donos, o poodle da vizinha a latir contente e o seu peixinho azul e vermelho parecia feliz novamente.
Quanto ao Armando, decidiu a partir dali, fazer sempre tudo certo da primeira vez para não precisar trabalhar dobrado, mas de vez em quando, ao passar por algo colorido, olhava para trás, afinal, coisas estranhas acontecem...!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Acerca do fim

Memórias (2009)

Quando eu me for
Lembrem-se de mim
Como quem lembra
Um jardim
Como quem lembra
Um som
Assim, assim
Uma palavra em latim

Lembrem-se de "Wild Musk"
Ou de um filme antigo
De singelo fim
Que eu não cansei de ver

E se possível lembrem
Que estou impregnado
Naquela sequência de fotos
Da parede
Em meio às motos.

Minha parede favorita

Convite (2006)

Se portas lá se abrem
Também aqui abertas estarão
Se braços (abertos) me esperam
Também os meus o estão

E meus lábios só sabem dizer
Vem meu amigo
Antes que seja tarde
Antes que tudo passe
Antes que o tempo acabe

Antes do esperado fim.

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Em memória de Sílvio Cruz. Poeta, amigo, incentivador que já não está entre nós.
Sinto sua falta.

domingo, 25 de agosto de 2013

Em qualquer idade...

A reunião (2002)

Numa casa velha
Cheia de velharias
Reuniram-se as tias

Enquanto uma velha ria
Outra tricotava um xale
A mais nova bebia chá
E duas tomavam pinga

Uma chorava ouvindo tango
Outra em seu canto
Padre-Nosso e Ave-Maria

No meio da sala
Rolava um strip
E ao fim da festa (todas)
Ressonavam sonhos lúbricos



Exemplar da Playboy (1987)

Expiando a maleta
De Dona Filó
Encontrei um exemplar
Da Playboy

Mas o que será que Dona Filó
Queria na Playboy?

Swing, passar tempo ou emoções?
Será que era distração
Ou algo mais?

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Reflexões

Das dores e dos medos (2006)

Para acabar com a dor
Da cabeça
Use ácido acetil salicílico
Para o fígado
Hepato protetor

Se o mal for de amor
Vai à luta
Há sempre alguém
A lhe esperar
(santa ou puta)

Para exterminar seus medos
Use Deus
Enlatado, empacotado
Em comprimidos
Ou de forma injetável

O preço é pouco
Ou demais


Meu Caminho (2006)

Não devo falar o que sinto
Não devo dizer o que penso
É melhor que eu guarde
Meus sentimentos
Prá não assustar mais ninguém

Será que as pessoas têm medo
De ouvir contar seus (nossos)
Segredos?
Será que é melhor fingir
Que vai tudo na santa paz?

Não quero calar
Por mais que mandem parar
Eu grito (ainda) por dentro
E continuo minha guerra
Sózinho

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Viagem à terra natal

Data: 14 a 17 de novembro de 2012
Objetivo: Atravessar o estado em direção ao extremo oeste catarinense
Trajeto total: Aproximadamente 1700 km

A viagem iniciou-se em São José, no litoral do estado, subindo até Lages. Na sequencia, após passarmos por Chapecó, seguimos para Anchieta onde formamos grupo de 3 motocicletas e partimos com destino a Mondaí. Situada às margens do rio Uruguai, na divisa com o Rio Grande do Sul, a pequena cidade que, antes de se tornar município, chamava-se Porto Feliz, cresceu à custa da extração de madeira, hoje tem sua economia baseada principalmente na produção de frutas, suínos e derivados de leite. No caminho paramos em São João do Oeste, estação hidrotermal quase na divisa com a Argentina.
Realmente Santa Catarina é digna do seu nome dado à variedade e beleza de seu território.

Catedral da cidade de Lages
Topo da Serra do Irani em Catanduvas
Vista parcial de Anchieta
As três motos reunidas em Iporã do Oeste
O grupo reunido também em Iporã do Oeste
Portal de entrada de São João do Oeste
Minha esposa na estação hidrotermal de São João do Oeste
Vista parcial de Mondaí
Antiga casa comercial em Mondaí
A barca na margem catarinense do rio Uruguai
Monumento esculpido na pedra em baixo relevo, em Mondaí

domingo, 11 de agosto de 2013

Patriotismos

Fábrica de cadarços (2012)

Senhores:
Nossa empresa não é coisa à toa
Só fabrica coisa boa
Nossos cadarços
São de nylon, couro
Ou de algodão

Quem usa nosso produto
Não se preocupa mais
Em fechar, abrir botão

Qualidade garantida
Preço bom
Entrega rápida
Em qualquer ponto do país

E sem mais delongas
Assino embaixo
Prá fechar negociação

Produzimos cadarços
Prá engrandecer nossa nação!


Cidadão completo (2008)

O seu nome é Pedro
O seu nome é João
Seu nome é:
Rudiwelington da Silva

Brasileiro nato
Cidadão completo
Pagador de impostos
Potencial consumidor
Rudiwelington da Silva
25 anos
Pai de cinco filhos
Seu voto faz a diferença

Todo dia é tudo igual
A obra está no fim
Não pagou a prestação
Agora vai nascer mais um

A chuva cai
A casa cai
Rudiwelington da Silva
Cidadão desabrigado 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Atitudes

Gramatical (2001)
   
Antes que a chuva caia
Você vai saber
Que eu tenho amor
Demais em mim

Que eu não sei me expressar
Direito
Mas vai me entender
E oferecer seu leito

A chuva cai
Vou soletrar
O som dos pingos
Prá poder lhe explicar
O que eu não sei mais


Desnudar-se (2003)
   
Que é que você tem?
Você sabe muito bem
Que é pouco o tempo
Que nos resta

Vou descansar no Iraque
Tirar férias em Golan
Depois volto prá esta festa
Na verdade eu quero ser seu fã

Mas que é que você tem?
Será que você sabe
Que a vida continua
Na terra ou na lua?
Que a estrela que caiu
Não era a sua?

Então tire a vestimenta
E ande pela praia nua

Antes que recaia
Sobre a cabeça
Tire a vestimenta
E ande pela praia, nua.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Mudanças

Leis da inocência (1981)

Se o cansaço alcança
Veja como dança
Houve uma mudança
No seu pensamento

Como um catavento
Lá no firmamento
Geme o seu lamento
Até o fim

Se o mal tinha de acabar
Houve uma mudança
Nas leis da inocência


(1987)

Havia um homem só
Em meio à multidão

Havia um girassol
No centro do jardim
Sobressaindo lindo
Por sobre o roseiral

Havia um pedregulho
Em meu sapato de domingo

domingo, 28 de julho de 2013

Nos limites

Nas barrancas do rio Peperiguaçu, em Paraíso/SC. Do outro lado as terras dos "espanhóis confinantes" como eram designados nossos vizinhos durante a disputa com o Paraná pelas terras do Contestado.

Pouco antes da fronteira

Minha esposa já em solo argentino

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A primeira moto

No início dos anos 1970 o Brasil não contava com uma indústria nacional de produção de motocicletas. Eram todas importadas como esta japonesa. Uma Honda SS50V, ano 1973. Minha primeira moto. Com ela uma viagem Florianópolis-Blumenau constituía uma grande aventura. Leve demais na parte dianteira, me fez voar baixo, literalmente junto ao chão, por diversas vezes. Mas como uma mulher atrevida, deixou saudades.

São José, outubro de 1977

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A chave do desejo

A chave do desejo (2006)

Seu corpo não pede o meu
Nem outro
Sua voz não me sabe chamar
É certo que o tempo passou
E o belo cedeu seu lugar

Tropas de choque avançam
Lenta ou rapidamente
E abatem
Outras estrelas nascem
Para brilhar

Seu corpo não pede o meu
Nem outro
Não há perguntas ou respostas
Apenas um certo vazio
Na boca do estômago

Um mago prevê o futuro
Mas não diz que a chave
Está em meu bolso

Seu corpo não pede o meu
Nem tenho mais dedos nas mãos
E a chave ainda está lá.

domingo, 14 de julho de 2013

Infantis

O menino que queria ser rei (1987)

Era uma vez um menino muito pobre que sonhava ser alguém importante. E no seu entender, importantes mesmo eram os reis e os príncipes. Afinal, nas estórias que ouvia lá estavam eles, fortes, imponentes e felizes.
Certo dia, o menino, Joãozinho, perguntou à sua mãe:
- Eu queria ser rei do mundo. Posso?
A mãe dele, assustada com uma pergunta daquelas, respondeu:
- Ora meu filho, ninguém pode ser rei do mundo...
- Poxa, então eu posso ser rei do Brasil?
- É claro que não. O Brasil é uma república. O máximo que você poderia almejar é ser presidente.
O garoto, que não desistia do seu sonho, insistiu:
- Eu vou ser rei do meu estado. Posso?
- Joãozinho, vê se entende! No estado tem governador...
- E rei da minha cidade?
- Não. Só prefeito você poderia ser.
- Droga! E rei do meu bairro?
- Também não.
- E da minha rua?
- Não.
A mãe, que já estava ficando irritada com a teimosia do filho, se afastou continuando com as tarefas da casa.
Joãozinho ficou pensativo por alguns minutos, andou de lado para outro, percebeu a mãe chorando e finalmente voltou, com os olhos brilhando de alegria e apontando para os remendos de sua calça, que a mãe com carinho costurava, disse:
- Mãe! Não fique triste, eu já sou um rei!
- Como assim, meu filho?
- Ora, eu sou um “Reimendado”, ta vendo?


A bicharada (1982)

A minhoca ta torta
A minhoca ta torta
Tadinha da minhoca
Vai pro buraquinho

O pipi já piou
O pipi já piou
Tadinho do “pipia”
Tanto assim

O macaco quer pipoca
O macaco quer pipoca
Pipoca ao macaquinho
Bonitinho

...macaco tem dente, pai, tem?

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Plantação de Ventiladores

O campo de geração eólica de Palmas - PR impressiona, não só pela quantidade de geradores como pela proximidade que se encontram da rodovia. Sua altura em torno de 100 mts equivale a um edifício de 35 andares. Faz-nos sentir diminutos.