domingo, 7 de junho de 2015

Prudência


          Finalmente Eduardo estava completando dezoito anos. Agora sim, poderia assistir filmes para maiores, em qualquer dos quatro cinemas existentes na cidade, naquela época. Poderia tirar carteira de motorista e, seu maior sonho, comprar uma motocicleta. A vida seria totalmente diferente, seria dono de seus próprios atos. Maravilha!
          Tudo estava indo bem. Eduardo, depois de longa busca, encontrou uma moto que "cabia" no seu bolso, fez as provas para alteração da categoria em sua carteira de habilitação, recebeu a dita-cuja e partiu, no mesmo instante, para o centro. Na primeira curva mais fechada, devido à sua total inexperiência, a moto "fugiu" dele. Eduardo, por sorte, conseguiu manter-se de pé, levantou a moto e, meio assustado, continuou seu caminho.
          Passaram-se seis meses de aprendizado e alguns tombos sem gravidade. Cada nova situação lhe ensinava algo mais.
        Já próximo ao natal daquele ano de 1976, Eduardo se considerava "piloto". Aconteceu, então, um acidente grave que resultou em várias fraturas e na necessidade do uso de muletas.
           Enquanto a moto era consertada o rapaz sossegou, mas quando ela ficou pronta não deu mais prá segurar. A moto precisava ser utilizada e, como as idas ao hospital ainda eram frequentes, Eduardo ia de moto. Em uma destas visitas, no corredor do prédio, encontrou o cirurgião que o havia operado. Após os cumprimentos o bom médico indaga:
          - Eu não lhe disse para usar as duas muletas?
          - Sim, o senhor falou, mas usando uma só, fico com a outra mão livre. Além do mais, é difícil prender as duas muletas no bagageiro da moto...
          - Não acredito! Você voltou a pilotar? Depois de todo o trabalho que tivemos para salvar sua perna? Os outros médicos queriam, simplesmente, amputar.
          Ao que , Eduardo respondeu:
          - Entendo a sua preocupação, mas pilotar motocicletas está no meu sangue e prometo que serei mais prudente a partir de agora.
          Ser prudente. Eis a questão! Parafraseando o autor de um artigo referente à motocicletas, o mesmo dizia "não existem motociclistas velhos imprudentes. Ou se é velho ou imprudente".
         E essa é uma grande verdade. Os imprudentes morrem novos. Precisamos, motociclistas e motoristas, estar atentos e prevenidos para as surpresas do trânsito, que são muitas. Como diz minha mãe "cautela e caldo de galinha não fazem mal à ninguém".
             Velocidade e imprudência matam. E eu desejo ver meus colegas motociclistas bem velhinhos, prendendo suas bengalas no bagageiro das motos antes de iniciar mais uma viagem!


 Modêlo-SC

São Bonifácio-SC
      

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