sábado, 27 de agosto de 2016

Em hum mil novecentos e antigamente...

          Quando cheguei em Florianópolis, em dezembro de 1966, costumávamos ouvir vendedores oferecendo arroz pelas ruas do bairro onde fui morar (Capoeiras). Eles anunciavam mais ou menos assim:
          - "olha arroz!", "e olha arroz!"...
          Nós, do interior, não conseguíamos entender por quê alguém venderia arroz de porta em porta. Até que, finalmente, um morador local nos explicou. Não era "arroz" e sim "rosca". Roscas de polvilho, tão tradicionais e apreciadas pelos descendentes de açorianos mas desconhecidas de quem provinha do oeste catarinense.
          Da mesma forma aconteceu com os vendedores de banana recheada. Eles cortavam o fim do termo:
          - "Banana rech...", "olha a banana rech...!".
          Hoje não passam mais. Quando passa é uma "Kombi" com alto-falante, bota alto nisso...
          - "Está passando pela sua rua o carro com ovos, maçã-do-amor e detergente para louças e para variar, salgadinhos deliciosos e crocantes..."
          Naquela época íamos, às vezes, à mercearia comprar 1 litro de leite. Em recipiente de vidro; leite tipo A, B ou C. O tipo do leite era determinado pela cor das tampinhas de alumínio: Vermelha, azul ou verde. A recomendação era sempre comprar o mais barato.
          Assistíamos TV em preto e branco. As melhores séries - para nós - eram: Perdidos no Espaço, Jim das Selvas, O Homem de Virgínia, Bonanza, Tarzan, A Lenda do Zorro... e ainda aquelas que nossos pais proibiam - passavam tarde da noite, às 9:00 ou 10:00 hs: James West e O Rei dos Ladrões, com Robert Wagner no papel principal. Ao final do filme dava-se o encerramento da programação.
          A maior realização para um menino de quatorze ou quinze anos era comprar uma bicicleta usada (Monark Olé 70) e depois vendê-la para pagar um curso de datilografia nas velhas e pesadas máquinas Remington. ASDFG... futuro garantido!
          Agora, bom mesmo era passar o dia na Praia da Saudade, com o trampolim - onde nunca consegui chegar, de tão mal nadador que era - o "trapiche" e sobre ele o Restaurante Arrastão. Muito movimento, pequenos barcos a remo ou vela, mulheres bonitas - lembrem-se que eu tinha cerca de quinze anos - muito riso, conversas e (quase) nada de poluição. Bons anos, aqueles!


Praia da Saudade - ao fundo o Restaurante Arrastão
(Divulgação-Internet)  

9 comentários:

  1. Ney.
    Lembrei de minha infância em São Paulo. Era a mesma coisa, só que em vez do olha o arroz... era olha o bijuuuuu. Os programas de TV eram o mesmo, que assistia com minha tida. Foi bom demais voltar ater lembranças de tempo idos. Augusto de Abreu

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    1. Bom que gostou, Augusto. É muito agradável quando a gente consegue, de alguma forma, tocar um leitor. Abraço!

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  2. Muito boa crônica, Ney!!! Eu já ouvi falar (em algum documentário, eh, eh) daquelas séries de TV que mencionaste!! Certos costumes de anos passados são deliciosos quando nos remetemos a eles. Haverá tempo em que caçar Pokemon no celular será relembrado com a mesma nostalgia...

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    1. É uma verdade. Esquecemos que o tempo atual será o passado dos nossos filhos e netos... Beijo!

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  3. Oi Ney,

    Agradeço pela lembrança. Crônica de peso nostálgico é sempre saudável tanto para o leitor quanto para o autor. Quando leio textos que tomam esse rumo, sempre me lembro de um dos meus livros prediletos "Paris é uma festa" - clássico de Hemingway - pontualmente no capítulo "Uma falsa primavera". Vale a leitura...

    Parabéns pela sensibilidade.

    Abraços

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    1. Obrigado Fábio. É que nessa altura da vida a gente lembra cada vez mais do passado. Parece que aqueles fatos ficam mais nítidos a cada dia que passa. E como disse o poeta "Recordar é viver..." Abraço!

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  4. Caro amigo Ney!

    Como é bom relembrar tantas vivências de tempos maravilhosos da saudosa Florianópolis. Cheguei a lembrar do Chimbica, padeiro que entregava pães e leite nas residências.
    Adorei o texto, abraços fraternos.

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    1. Fico feliz que tenhas gostado. Quando cheguei em Florianópolis, parece, já não se fazia mais esse serviço de entrega. Os tempos estavam mudando...! Beijo!

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  5. Caro amigo Ney!

    Como é bom relembrar tantas vivências de tempos maravilhosos da saudosa Florianópolis. Cheguei a lembrar do Chimbica, padeiro que entregava pães e leite nas residências.
    Adorei o texto, abraços fraternos.

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