Quando cheguei em Florianópolis, em dezembro de 1966, costumávamos ouvir vendedores oferecendo arroz pelas ruas do bairro onde fui morar (Capoeiras). Eles anunciavam mais ou menos assim:
- "olha arroz!", "e olha arroz!"...
Nós, do interior, não conseguíamos entender por quê alguém venderia arroz de porta em porta. Até que, finalmente, um morador local nos explicou. Não era "arroz" e sim "rosca". Roscas de polvilho, tão tradicionais e apreciadas pelos descendentes de açorianos mas desconhecidas de quem provinha do oeste catarinense.
Da mesma forma aconteceu com os vendedores de banana recheada. Eles cortavam o fim do termo:
- "Banana rech...", "olha a banana rech...!".
Hoje não passam mais. Quando passa é uma "Kombi" com alto-falante, bota alto nisso...
- "Está passando pela sua rua o carro com ovos, maçã-do-amor e detergente para louças e para variar, salgadinhos deliciosos e crocantes..."
Naquela época íamos, às vezes, à mercearia comprar 1 litro de leite. Em recipiente de vidro; leite tipo A, B ou C. O tipo do leite era determinado pela cor das tampinhas de alumínio: Vermelha, azul ou verde. A recomendação era sempre comprar o mais barato.
Assistíamos TV em preto e branco. As melhores séries - para nós - eram: Perdidos no Espaço, Jim das Selvas, O Homem de Virgínia, Bonanza, Tarzan, A Lenda do Zorro... e ainda aquelas que nossos pais proibiam - passavam tarde da noite, às 9:00 ou 10:00 hs: James West e O Rei dos Ladrões, com Robert Wagner no papel principal. Ao final do filme dava-se o encerramento da programação.
A maior realização para um menino de quatorze ou quinze anos era comprar uma bicicleta usada (Monark Olé 70) e depois vendê-la para pagar um curso de datilografia nas velhas e pesadas máquinas Remington. ASDFG... futuro garantido!
Agora, bom mesmo era passar o dia na Praia da Saudade, com o trampolim - onde nunca consegui chegar, de tão mal nadador que era - o "trapiche" e sobre ele o Restaurante Arrastão. Muito movimento, pequenos barcos a remo ou vela, mulheres bonitas - lembrem-se que eu tinha cerca de quinze anos - muito riso, conversas e (quase) nada de poluição. Bons anos, aqueles!
Praia da Saudade - ao fundo o Restaurante Arrastão
(Divulgação-Internet)