domingo, 31 de maio de 2015

Uma estrela (1982)


 Como a mata 
Que oculta a armadilha
Como a noite
Que da brecha não se vê
De repente brilha
Uma estrela

Como o vento que açoita
E o mar que tão mal
Trata a rocha
Como alguém
Que se esconde atrás da moita
De repente surge
Uma força

Como a fome
Que aperta
Como a dor que se alimenta
Dela mesma
De repente, lute

domingo, 24 de maio de 2015

Paixão por duas rodas

          Motocicletas. Ah, as motocicletas...! Quarenta anos pilotando-as e elas me fascinam, cada vez mais.
          Lembro-me bem da primeira vez que vi uma reportagem sobre motos, na revista "Seleções do Reader's Digest", lá nos anos 60. Era sobre o piloto italiano Giacomo Agostini, campeão mundial de motovelocidade, na categoria 500cc, de 1966 a 1972. O cara era fera demais! Eu, menino, já sabia ler e aquele artigo deixou marcas profundas em mim.
          Posteriormente, por volta de 1973, um colega de colégio, alguns anos mais velho que eu, ganhou de seu pai uma motocicleta Honda, vermelha (adoro esta cor nas motos) e desfilava com ela no Instituto Estadual de Educação, em Florianópolis, onde estudávamos. A paixão aumentou, colecionava figurinhas de motocicletas, assisti "Easy Rider", o clássico filme com Peter Fonda, comprava - e compro - revistas especializadas, finalmente adquiri minha primeira moto. Diverti-me muito, sozinho, acompanhado de minha esposa, em grupos de motociclismo...
       Agora, após tantas aventuras sobre duas rodas, deparo-me com imagens de motocicletas antigas e fico a divagar em como seria pilotar uma destas, no início do século passado, com péssimas estradas, pneus que furavam a toda hora e ouvindo as mães, tias, namoradas, chamando os pilotos de loucos. Aliás, continuam nos chamando assim até hoje. A adrenalina sobe só de pensar nas antiguidades que, abaixo, compartilho com vocês, amigos motociclistas e demais leitores. Divirtam-se!
       




   
          

sábado, 16 de maio de 2015

Gente vazia (1979)


 Quando anoitece 
O povo todo adormece
Então eu reflito
Penso na minha gente vazia

Sem poder mais falar
Sem querer mais ouvir
Sem saber mais sonhar
Sem amar
Sem sofrer
Sem sentir
Sem sorrir
Sem um ponto de apoio
Sem fé
Sem confiança
Sem esperança
Sem nada prá dar

Então eu reflito
Penso na minha gente
Vazia

segunda-feira, 11 de maio de 2015

No rio Canoas

Cartão-postal destruído


          Todas as vezes que viajo para o oeste catarinense, costumo parar junto à ponte sobre o rio Canoas, na divisa dos municípios de São José do Cerrito e Vargem, para apreciar uma das paisagens mais bonitas, ao meu ver, do estado.
          Trata-se de um conjunto de pequenas ilhas no meio do rio, com um pouco de corredeiras, compondo um cenário de encher os olhos. Além do mais, o rio Canoas foi palco de batalha durante a fuga de Giuseppe e Anita Garibaldi, em 1840, para o Uruguai, após o fim da República Juliana, em Laguna.
       Estes fatores, conjugados, evocam-me sensações difíceis de descrever, transportando-me no tempo, divagando...
            Para surpresa e tristeza nossa (eu e minha esposa), na última viagem que fizemos, na páscoa deste ano - para Palma Sola - encontramos o "nosso" lindo lugar modificado, já quase irreconhecível.
        Por causa da construção de uma represa para geração de energia elétrica - necessária, é bem verdade - está se formando uma espécie de lago que aos poucos vai encobrindo as ilhotas. As corredeiras já não existem mais e a água engole rapidamente as antigas margens.
          A pergunta que me ocorre é se há mesmo necessidade de gerar energia destruindo paisagens tão lindas como esta, do rio Canoas ou, por exemplo das fantásticas "Sete Quedas", engolfadas pelo lago de Itaipú.
          Temos tanta fartura de vento e de sol. Produzir energia eólica ou solar agride muito menos o meio-ambiente, não é necessário desapropriar tantas famílias, cidades inteiras - lembrem-se de Itá - e tem custo menos elevado que as gigantes hidrelétricas.
          Quando nossas autoridades começarão a pensar com mais bom-senso, lembrando de gerar progresso aliado à preservação da natureza?
         É muito triste saber que nunca mais poderemos apreciar aquela paisagem novamente!
          Por esse motivo, como um desabafo e alerta, escrevo este texto e, abaixo, coloco fotos tiradas em 2009 e 2015, do mesmo ponto, para comparação.
          Gente! É preciso que todos nós tenhamos uma consciência cada vez mais voltada à preservação da natureza, antes que acabemos com tudo à nossa volta. 

 
Novembro de 2009: Ilhas vivas (lado sul) 

Abril de 2015: As árvores morrendo (lado sul)

 Novembro de 2009: Margens intactas

     Abril de 2015: O rio avança sobre as margens (lado norte) 

sábado, 2 de maio de 2015

O rio (2011)

 (Uma homenagem ao "falecido" rio Capivara em Mondaí-SC) 

Na minha infância
Havia um rio
Meu rio morreu
Quem matou meu rio
Não fui eu

E os sonhos que sonhei
Se foram
Como as águas do meu rio

Agora quero dormir
E sonhar
E ver meu rio
No mesmo lugar