Armando era um
menino de doze anos, sensível, estudioso e sonhador, mas, às vezes, um
pouquinho preguiçoso. Certo dia, sua professora levou para a aula um
caleidoscópio de vidro para estudo da luz. Falou sobre a refração da luz, das
ondas de luz e das cores.
O
caleidoscópio passou de mão em mão até chegar às de Armando, que ficou
fascinado ao ver as cores do arco-íris brilhando no aparelho. Passou o resto do
dia pensando no que tinha aprendido e dormiu com as lembranças na cabeça.
Ao acordar, na
manhã seguinte, notou algo estranho. Quando passou em frente ao aquário, seu
peixinho azul e vermelho ficou sem cores. Estava preto, branco e cinza. Mais
parecia um rascunho do seu peixinho. Onde quer que fosse tudo ficava sem cor.
Tudo ficava em tons de cinza.
Armando estava
assustado. Pensou em falar com seus pais, mas eles eram muito ocupados e não
teriam tempo para ajudar no seu problema. E um mundo cinza era feio demais.
Algo precisava ser feito.
Ele então se
lembrou de um velhinho de barbas brancas que morava próximo da sua escola. Seu
Joaquim. Algumas pessoas falavam que ele era um bruxo, outras que seria
papai-noel.
Armando
resolveu procurá-lo e perguntar se poderia ajudá-lo a devolver as cores aos
seus donos.
Ao chegar à
casa de seu Joaquim, Armando abriu o portão e cruzou um jardim florido, que
curiosamente não perdeu suas cores. Parecia que ele estava no lugar certo.
Armando então
bateu na porta e surgiu seu Joaquim, as barbas longas mais parecendo algodão,
perguntando:
- O que deseja
menino?
- Seu Joaquim,
eu estou com um problemão e não sei resolver, pode me ajudar?
- Claro, entre
e conte prá mim.
Armando entrou
e contou com detalhes o que estava acontecendo. Seu Joaquim pensou por um tempo
e procurou um livro velho, encadernado em verde-escuro e com letras douradas na
capa, que diziam “Cores, sabores e magia”.
Seu Joaquim,
colocando os óculos redondos que o deixavam parecido com o mago Merlin do
desenho, procurou no índice:
-... Cores
fortes... Cores fracas... Achei!... Cores fujonas!
“Quando as
cores cansam de ficar no mesmo lugar por muito tempo, procuram alguém que tenha
a capacidade de levá-las consigo, como se fosse um imã. Para se restaurar tudo,
o imã (normalmente uma criança) é preciso que ela faça o caminho inverso desde
o começo do problema, recitando a cada dois minutos – Cores! Voltem para o seu
dono.
Seu Joaquim,
falando baixinho, como se fosse para ele mesmo, disse:
- É por isso
que as cores desbotam, com o tempo... Elas estão fugindo aos poucos.
E fechando o
livro, insistiu:
- A cada dois
minutos diga a frase!
- Tá bom seu
Joaquim, tchau.
Ao sair,
fazendo o caminho inverso, Armando pensou:
- Puxa vida,
vai dar um trabalhão falar a cada dois minutos “Cores! Voltem para o seu dono”.
Só vou falar algumas vezes. Ninguém vai saber... E se eu encurtar o caminho um
pouco, chego em casa mais rápido. Vou devolver as cores de maneira mais fácil.
Quando Armando
chegou na sua casa estava cansado e foi para seu quarto dormir um pouco. Sentiu
fome e voltou para a cozinha. No momento em que passou na frente do aquário viu
que o seu peixinho estava amarelo e roxo.
- Ai, ai, ai
será que...?
Armando saiu
correndo e constatou que a coisa estava feia. Os papagaios do parque estavam
cor-de-rosa, as rosas ficaram azuis, o poodle da vizinha estava amarelo com
manchas pretas, parecia uma onça-pintada. O pobre cachorrinho olhava para seu
corpo e gania, sem entender.
O menino então
voltou à casa do seu Joaquim, contou a confusão e este, sorridente, disse:
- Já que você
quis fazer mais fácil, agora terá de corrigir o erro repetindo A CADA MINUTO a
frase “Cores! Voltem para os seus verdadeiros donos”.
Armando,
cabisbaixo, reconheceu que se tivesse seguido as recomendações do seu Joaquim,
à risca, já estaria tudo resolvido. Tudo por causa daquela preguicinha que o
acometia às vezes...
Agora fez tudo
certinho. As cores voltaram para os seus legítimos donos, o poodle da vizinha a
latir contente e o seu peixinho azul e vermelho parecia feliz novamente.
Quanto ao
Armando, decidiu a partir dali, fazer sempre tudo certo da primeira vez para
não precisar trabalhar dobrado, mas de vez em quando, ao passar por algo
colorido, olhava para trás, afinal, coisas estranhas acontecem...!